Marinha chilena divulga vídeo de alta resolução de óvni e ilustra limitações da ufologia

Um vídeo intrigante de objeto voador não identificado divulgado pela Marinha chilena está causando na internet, depois que investigadores que o analisaram por dois anos falharam em associá-lo a qualquer explicação convencional. É um ótimo caso para ilustrar tanto o fascínio que os óvnis exercem quanto as limitações do que convencionamos chamar de ufologia.

“Nós não sabemos o que era, mas sabemos o que não era”, disse o general Ricardo Bermúdez, diretor do CEFAA (Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos), órgão governamental chileno responsável por investigar casos como esse, a Leslie Kean, jornalista do “Huffington Post“.

O avistamento aconteceu na tarde de 11 de novembro de 2014 e foi feito por dois tripulantes de um helicóptero da Marinha chilena. De posse de uma poderosa câmera embarcada de alta resolução, os oficiais produziram um vídeo de mais de 9 minutos, que revela imagens do objeto em luz visível (onde ele quase não aparece, salvo como um ponto branco) e em infravermelho.

Aparentemente, a velocidade do objeto era similar à do helicóptero e ele voava a baixa altitude, a uma distância de cerca de 55 km dos observadores. O objeto não fez nenhuma manobra não convencional. Mas não havia tráfego aéreo autorizado na região, o objeto não atendeu a chamados de comunicação por rádio em frequências internacionais padrão e acabou perdido entre as nuvens. Também não aparecia no radar e não estava em aproximação para pouso no aeroporto de Santiago, hipótese aventada por investigadores franceses (um dos países com quem o CEFAA tem acordo de intercâmbio de informações).

Duas características marcam as observações em infravermelho. Primeiro, elas revelam duas fontes de calor que dão brilho ao objeto, lembrando o formato de halteres. Os investigadores franceses apontaram como a distância entre eles seria compatível com a que existe entre as duas turbinas de uma aeronave de médio porte. Mas o que vem a seguir é mais difícil de explicar: em dois momentos, o objeto ejeta algum material em forma de gás ou líquido, que forma um padrão parecido com uma trilha de condensação, visível com incrível clareza apenas no infravermelho, mas que se mistura às nuvens em luz visível.

A substância ejetada do objeto não pode ser identificada. De novo, os investigadores franceses apontam que poderia ser ejeção da água de reserva de uma aeronave de médio porte. Mas os chilenos alegam que esse procedimento não seria comum e que ninguém tem autorização para ejetar nada de aeronaves em território chileno. Além disso, se fosse água, àquela altitude, com aquela temperatura, não teria formado trilha de condensação.

Após dois anos debruçados sobre o vídeo e as observações do chamado Caso Armada, os investigadores do CEFAA divulgaram os materiais e declararam suas conclusões, catalogando o objeto como FANI (fenômeno aéreo não identificado).

O QUE APRENDEMOS?

Dificilmente teremos um avistamento tão bem registrado quanto esse. O vídeo tem qualidade tão boa quanto possível, a câmera tinha poderosos recursos de zoom e infravermelho, os observadores eram confiáveis e fizeram o registro de uma plataforma aérea móvel, o helicóptero da Marinha.

E, no entanto, pouco mais podemos dizer sobre o caso além de “não sabemos o que é”. Podemos afirmar que se tratava de um objeto voador de natureza artificial e que não tinha autorização para voar onde estava. Mas era terrestre ou extraterrestre?

Apesar das conclusões dos militares, pessoalmente o Mensageiro Sideral considera muito mais provável que se trate de um avião em rota não autorizada, possivelmente a serviço do crime organizado, despejando alguma coisa no ar após ter sido contatado por um helicóptero da Marinha, do que uma nave estelar passeando casualmente sobre o oceano Pacífico a serviço da Federação Galáctica.

Mas dá para dizer que com certeza não é uma nave estelar a serviço da Federação Galáctica? Claro que não. Se considerarmos que a vida pode ter surgido em múltiplos lugares do cosmos (nada absurdo a essa altura) e que eventualmente a vida inteligente aparece nesses lugares (nada absurdo) e esses seres podem decidir empreender viagens espaciais (nada absurdo, a julgar por nós mesmos), a hipótese de visitação extraterrestre se torna distintamente possível.

A premissa básica da ufologia, portanto, tem fundamentos sólidos. O problema aí é que a ufologia não é ciência; se fosse, não daria o salto de fé que vem com todas as observações de óvnis. A lógica dos ufólogos é: como nossa premissa é sólida, quando não sabemos identificar um objeto aéreo numa observação, logo só pode ser uma nave extraterrestre.

Opa, calma lá. Não é bem assim. Incontáveis hipóteses alternativas podem explicar a observação de cada um desses casos, de acordo com suas características peculiares.

Se a ufologia fosse uma ciência, em vez de saltar para a sua conclusão favorita, ela poderia buscar maneiras de discriminar entre essas hipóteses alternativas e ver qual delas se encaixa melhor ao fenômeno. O problema é que esse não é um procedimento viável. Ela não lida com fenômenos repetitivos. Não dá para pedir para o óvni chileno de 2014 reaparecer hoje para aplicarmos um espectrógrafo e identificarmos o material que ele ejetou. Ou seja, além de convicções pessoais, ganhamos muito pouco com o estudo de objetos voadores não identificados.

Há casos fascinantes (e abordo diversos deles no meu livro “Extraterrestres”), mas nada que possa se tratar como conclusivo ou informativo. Terminamos cada caso como começamos: sem saber do que se trata, mas aceitando que a hipótese de que a Terra seja visitada por alienígenas não é, por si só, absurda; é apenas extraordinariamente difícil de verificar, a não ser que os supostos visitantes queiram de fato se revelar.