O Bom Médium
- 16/09/2013 01:56
Numa análise superficial, não encontraríamos justificativa para que o Mestre contestasse o título "bom", haja vista que - de fato - Ele o era, e que se tratava de uma saudação amistosa e reverente. Além disso, diferente de muitas outras autoridades que buscaram Jesus para confrontá-lo, aquele nobre hebreu desejava, sinceramente, aprender com o Rabi de Deus.
Por essas palavras, Jesus não anelava descartar aquele homem rico e bem posicionado, como encontraremos explanado na magistral interpretação de Allan Kardec acerca da salvação dos ricos, contida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, muito ao contrário, desejava tê-lo entre Seus discípulos.
Nada obstante, Jesus nunca desaproveitava as oportunidades para moralizar e desenvolver inteligências, ensinando a pensar, e, por conseguinte, ensinando a melhor maneira de bem viver.
O respeito e a deferência são valores muito nobres, e devem ser aplicados não somente no tratamento para com aqueles em posição superior, mas também aos compares e subalternos, indiscriminadamente. Contudo, poder-se-ia interpretar a postura de Jesus como uma advertência, para que fugíssemos da prática do enaltecimento exagerado, e da adulação visando à obtenção de favores e privilégios indevidos.
A sabedoria das lições do Mestre Amorável são de pragmatismo ímpar, posto que a aplicabilidade de Sua doutrina logra bom êxito prático em todas as situações da vida, e em qualquer época histórica, mormente nos dias atuais, quando - a propósito dos ensinos apreendidos dessa passagem evangélica - poder-se-ia estender a preciosíssima instrução do Nazareno até um dos maiores escolhidos da prática mediúnica: a interferência dos espíritos imperfeitos nas comunicações espirituais.
Assédio persistente de um espírito sobre o outro, a obsessão se afigura como o mais grave drama que pode assolar a tarefa mediúnica, e nem mesmo os médiuns mais dignos e moralizados estão livres da ação dos espíritos levianos e pseudossábios. Além do mais, também assevera Allan Kardec que As boas intenções, a própria moralidade do médium nem sempre são suficientes para o preservarem da ingerência dos espíritos levianos, mentirosos ou pseudossábios, nas comunicações. Além dos defeitos de seu próprio espírito, pode dar-lhes guarida por outras causas, das quais a principal é a fraqueza de caráter e uma confiança excessiva na invariável superioridade dos espíritos que com ele se comunicam.
É possível reconhecer o médium sob má influência pelos seguintes caracteres, entre outros: confiança do médium nos elogios que lhe fazem os Espíritos que com ele se comunicam; disposição para afastar-se das pessoas que podem lhe dar úteis conselhos; levar a mal a crítica, a propósito das comunicações que recebe. Dessa maneira, faz-se compreensível o efeito deletério que produz a aceitação da lisonja pelos medianeiros, sob qualquer pretexto.
Para preventivo contra essa intervenção nociva, nunca será demasiado recordar a elucidação proporcionada pelo Codificador, poderosamente capaz de mudar o ponto de vista do médium no que diz respeito à própria condição de falibilidade: Os Espíritos bons aprovam aquilo que acham bom, mas não fazem elogios exagerados. Estes, como tudo que denota lisonja, são sinais de inferioridade da parte dos Espíritos.
Além do mais, o fiel apóstolo lionês de O Espírito de Verdade explica que (…) até os melhores médiuns também são iludidos pelos espíritos inferiores com assiduidade, e que o melhor médium é aquele que, simpatizando somente com bons Espíritos, tem sido enganado menos frequentemente. Portanto, pode-se ser enganado pelos espíritos sem estar obsidiado, assim como qualquer homem honestíssimo também pode ser enganado por encarnados vigaristas. Trata-se de grave advertência do mestre Rivail/Kardec.
A conclusão racional para os inolvidáveis ensinamentos de Jesus - e de Seu mais excelente intérprete, Allan Kardec - é que todo médium deve repelir impiedosamente os elogios de todos os espíritos, ainda que se lhe apresentem como instrutores ou guias, especialmente se estiverem pregando ser dispensável o estudo metódico e continuado de todas as obras kardecianas. São sempre espíritos levianos e pseudossábios, que tendem a se impor aos homens cercando-os de lisonja e assistência, para conquistar-lhes a amizade e a confiança. O despistamento é o ato de iludir a vigilância dos médiuns, afastando suspeições.
Declinemos, pois, da adulação e da blandície indevida, traiçoeiros véus capazes de obnubilar a visão de nossa real pequenez e de levar-nos aos abismos da perturbação e do erro, jamais esquecendo que, verdadeiramente, ninguém é bom, senão só Deus.
Autor(a): Fabiano Pereira Nunes
Revista Cultura Espírita - Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB)
Ano IV - Edição nº 41 - Página: 15 - Agosto/2012.