NASA descobriu exatamente quais geleiras vão inundar quais cidades quando derreterem
- 12/03/2018 20:58
Um novo estudo publicado na Science Advances, durante a semana, oferece uma visão altamente detalhada do aumento de nível do mar local usando, aparentemente, física reversa e modelos de alta tecnologia. As descobertas mostram quais geleiras e mantos de gelo deveriam preocupar mais aqueles que vivem em Nova York, Sydney ou em qualquer um dos outros 291 portos analisados no estudo.
O avanço alcançado pelo estudo — chamado de mapeamento de impressões digitais em gradiente — veio de uma “mudança de ponto de vista: de alguém que estava em cima do gelo, tentando entender como seu derretimento local iria impactar o nível do mar em algum outro lugar do mundo, para alguém em uma cidade costeira, tentando entender como áreas repletas de gelo ao redor do mundo iriam impactar o aumento do nível do mar localmente”, disse Eric Larour, autor principal do estudo e pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em entrevista por email ao Earther.
Acontece que, às vezes, o gelo mais distante do seu local é que pode oferecer o maior problema. Pegue como exemplos Nova York e a Groenlândia. O manto de gelo da Groenlândia contém gelo suficiente para aumentar os níveis do mar em 6,09 metros caso derretesse por completo. Mas as geleiras que circundam a Groenlândia estão derretendo em ritmos diferentes e vão continuar assim conforme o planeta se aquece.
As novas descobertas apontam para as geleiras no canto nordeste da Groenlândia — aquelas mais distantes de Nova York — como as maiores contribuidoras para o aumento do nível do mar. É aí que entra a física estranha. Os níveis do mar vão, na verdade, diminuir perto de locais em que exista uma perda de gelo grande o bastante, porque agora existe menos puxão gravitacional. Essa informação encorpa pesquisas anteriores feitas por Larour e seus colegas, no ano passado, assim como observações do satélite GRACE, da NASA.
Um mapa de impressões digitais em gradiente para nove cidades. As cores mais brilhantes indicam um impacto maior do aumento do nível do mar naquela cidade. Imagem: Larour et al., 2017
Toda essa água foge com pressa e, nesse caso, acaba no litoral de Nova York. A pesquisa também mostra que o nível do mar em Oslo, na verdade, diminuiria se apenas o nordeste da Groenlândia derretesse, resultado que pegou de surpresa até mesmo os pesquisadores.
“Esperávamos ver variações na maneira como áreas da Groenlândia, por exemplo, afetam a América do Norte e o norte da Europa, mas não de uma forma tão espacialmente diferente”, disse Larour.
A análise resultante foi feita para incluir também a Antártida. O manto de gelo da Antártida Ocidental, que poderia aumentar o nível do mar em até 3,96 metros, já está em um estado que alguns pesquisadores temem ser um colapso imparável. A nova pesquisa mostra que um colapso ali teria um impacto enorme em Sydney, na Austrália.
“A ideia de que nossos oceanos não são banheiras e de que mantos de gelo têm uma aura gravitacional em torno deles é simplesmente muito legal”, disse Robin Bell, pesquisadora de criosfera no Lamont-Doherty Earth Observatory, ao Earther. “É uma dessas coisas sobre as quais as pessoas amam aprender. Esse estudo é o primeiro esforço real para separar esse conceito de que importa de onde o gelo vem.”
Isso não só é legal como também é um grande ativo para planejadores urbanos que esperam entender os riscos que geleiras individuais e mantos de gelo apresentam. Por exemplo, a geleira Peterman, no nordeste da Groenlândia, é uma das de maior velocidade no mundo. Saber isso e que ela é uma das principais impulsionadoras do aumento do nível do mar em Nova York pode ajudar planejadores urbanos a priorizarem a restauração de pântanos ou de paredões em vez de, digamos, melhorar o sistema de esgoto para lidar com os aguaceiros. Embora, sendo sincero, eles provavelmente deveriam fazer ambos.